Zona Norte: reforma da Ponte do Igapó piora trânsito e incomoda região
Natal, RN 8 de mai 2024

Zona Norte: reforma da Ponte do Igapó piora trânsito e incomoda região

27 de dezembro de 2023
9min
Zona Norte: reforma da Ponte do Igapó piora trânsito e incomoda região
Moradores denunciam passam horas no trânsito, principalmente em horários de pico - Foto: Leandro Juvino

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As obras na Ponte do Igapó causam problemas para os moradores da Zona Norte desde setembro de 2022. Um ano depois, o Departamento de Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) realizou uma nova interdição na estrutura, dessa vez, com o prazo de um ano e meio de duração. Pouco mais de 90 dias desde o início da nova interdição, moradores da maior região em tamanho e população da cidade reclamam pela demora da reforma, pela falta de coordenação da Prefeitura de Natal e Dnit e a lentidão no fluxo do trânsito. 

A reportagem da Agência Saiba Mais esteve na região durante a última semana e constatou a lentidão no fluxo do trânsito, principalmente nos horários de pico, pela manhã e fim da tarde. Isso acontece porque uma das vias foi interditada pelo Dnit para realização das obras de reestruturação, ficando livre somente um lado da estrutura. Já a pista foi recapeada pela empresa responsável pela obra e não apresenta mais problemas. Procurada pela reportagem e questionada sobre o andamento das reformas, o Dnit informou que a obra está dentro do tempo estabelecido e o prazo de entrega da obra está previsto para janeiro de 2025.

Enquanto a obra não tem fim, moradores da Zona Norte e de municípios vizinhos como Ceará Mirim e Extremoz, que precisam atravessar a ponte quase ou todos os dias da semana, reclamam pela lentidão no fluxo que precisam enfrentar há quase dois anos. Rafael Medeiros, morador da Zona Norte há 28 anos, comenta como é notória a baixa qualidade de vida que os moradores enfrentam com essas obras. 

São tempos de espera maiores que o esperado pelo transporte público, por conta dos congestionamentos rotineiros e piorados com a baixa qualidade de serviço e supervisão da obra. Hoje, passamos mais tempo tentando nos deslocar de um ponto a outro da cidade, do que resolvendo nossas próprias questões. Já gastei mais de R$50,00 em uma única manhã para tentar chegar ao meu trabalho, na Zona Leste da cidade”, desabafou o trabalhador que precisou trocar de horário no serviço para evitar as batidas de ponto atrasadas que interferiam diretamente na sua vida profissional.

Além de sofrer os transtornos vividos na ponte, Rafael lembra das vezes que presenciou situações desumanas sofridas pelos usuários de transportes públicos da capital. Um acontecimento ficou marcado, de maneira trágica, em sua mente. No último dia 15 de junho, Medeiros viu uma grávida sendo socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) após ter seu direito de ir e vir interrompido pela situação precária de mobilidade urbana, uma obra sem fim e congestionamentos horríveis. 

Busquei no mesmo dia resposta de representantes que depositei minha confiança através do voto e a resposta que recebi foi o já esperado: ‘Temos de concordar que a situação em que Zona Norte vive há muito tempo tem sido ruim, mas temos visto uma piora significativa nesta gestão. Além de obras sem planejamento e medidas pouco efetivas de tráfego. Temos atuado na fiscalização, denúncia e proposição de alternativas. Apesar da pouca disposição da gestão Álvaro Dias de pensar a mobilidade de outra forma’. É triste morar em uma cidade que, através de uma péssima gestão por parte da prefeitura, não consegue proporcionar o básico aos seus moradores. E, além disso, infringir os direitos humanos de uma forma tão banal. A verdade é que a gestão de Álvaro Dias sempre esteve mais preocupada em fazer em quantidade e nunca pensou na qualidade”, finalizou o jovem comentando da resposta que recebeu. 

Obra na ponte não está preparada para lidar com imprevistos 

Fernanda Pinheiro, estudante de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), também compartilha esse sentimento de revolta. A jovem conta que é preciso bater palma para a coragem dos estudantes que precisam atravessar a cidade, com todos esses problemas, para conseguir um diploma. Fernanda comenta como a vida do trabalhador, morador e estudante da Zona Norte ficou muito mais difícil depois do início das reformas sobre o Rio Potengi, e como isso não é novidade para ninguém. A diferença é que, como a região é a menos favorecida da cidade, pouco importa os problemas que os moradores, que na verdade movimentam o restante da capital inteira, sofrem. 

A estudante lembra do dia em que ficou mais de uma hora presa, em pé, dentro de um ônibus lotado na ponte. Nesse dia, mesmo saindo de casa duas horas antes do combinado, Fernanda não conseguiu chegar a tempo de um evento do seu curso na UFRN. Para voltar, a jovem levou mais duas horas para chegar em casa. 

Esses dias aconteceu um imprevisto na ponte, sendo que com a estrutura que ela possui ela não é capaz de lidar com imprevistos, mas deveria, por conta da obra, né? Aconteceu um acidente com um carro e o que já era ruim piorou. Passei uma 1h e 20m só no trajeto sobre a ponte. Eu demorei uma 1h e 50m, quase 2h, para chegar ao destino. Isso equivale a uma viagem de Natal para o interior do RN, né? Então, assim, isso é uma coisa horrível”, pontuou Fernanda. 

Outro fator que Pinheiro destaca, são as más condições impostas às pessoas presas naquele trânsito. A maioria dos ônibus são superlotados, os passageiros viajam em pé sem espaço e os veículos não tem nenhuma climatização. Esse conjunto de fatores, somado ao tempo que se perde ‘preso’ nos engarrafamentos, é o suficiente para uma série de problemas de saúde acontecerem. 

Quando a gente está do lado que o sol nasce, ele fica na nossa cara. O sol da manhã não é muito forte, mas a gente passa 1h e 20m parados ali no trânsito e aquilo vai fazer um mal danado para a saúde, né? Inclusive, por isso mesmo, me deu problemas de pele. Tive várias manchas por conta do sol. Natal não é a cidade do sol à toa. Então assim, para quem não tem dinheiro para se cuidar, isso é muito problemático. Não dá para fechar as janelas, não tem um visor para proteger dos raios UV, não tem uma climatização e ainda as pessoas vão em pé”, finalizou.

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Essa reportagem faz parte do projeto "Saiba Mais de perto", idealizado pela Agência SAIBA MAIS, e financiado com recursos do programa Acelerando Negócios Digitais, do ICFJ/Meta e apoio da Ajor.

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