A resistência dos pequenos artistas da Zona Norte
No último dia 26 de dezembro, a Câmara Municipal de Natal aprovou uma matéria apresentada pelo prefeito Álvaro Dias (Republicanos), que reduz investimentos culturais na cidade. O incentivo à cultura, que já era pouco, ficou ainda mais reduzido. E se os artistas da capital potiguar já são impactados pela falta de apoio à cultura, os pequenos artistas da Zona Norte sofrem ainda mais com o descaso.
Anthony Ederson, estudante de Artes Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Arte-Educador e morador da Zona Norte, é enfático ao dizer que a região é negligenciada em vários aspectos e a cultura é só mais uma delas. O artista, que concentra os trabalhos em precariedades urbanas através de linguagens como a gravura, comenta a dificuldade de ser um artista da Zona Norte.
“A falta de oferta de eventos e espaços expositivos para as artes visuais na Zona Norte é imensa. Existe uma escassez em todas as áreas artísticas. Se a ação não gera lucro imediato, ninguém quer investir”, destaca.
A população da Zona Norte praticamente não tem acesso a exposições culturais e artísticas, muito menos a obras, oficinas, seminários e outros eventos.
“Todas as ofertas de oficinas, seminários, exposições, mostras e demais eventos acontecem no eixo Centro/Zona Sul da cidade. O cidadão da Zona Norte não tem acesso à Pinacoteca, galerias do Sesc e todos os outros espaços que recebem essas ofertas culturais. Sem falar da precariedade do transporte. Em Natal, os jovens da ZN precisam decidir se pegam o ônibus de 22h30 para ir para casa antes da festa começar, ou se dormem na rua depois que a festa acaba”, denuncia o artista.
Luiza Tenório, também é estudante de Artes Visuais na UFRN e conta como ser artista na Zona Norte a faz sentir-se isolada do restante da cidade.
“Uma região frequentemente negligenciada, não apenas de recursos básicos, mas também culturalmente. As oportunidades parecem sempre ser direcionadas para outras áreas, tornando-se desafiador prosperar artisticamente.”, reclama.
Para Luiza, “observar o funcionamento do sistema cultural da cidade, com a falta de interesse nos aspectos artísticos e a redução urgente de investimentos para cultura, é, por vezes, desanimador”.
A artista avalia que é como se a classe precisasse constantemente provar a importância da arte e de como ela vai além do entretenimento. A jovem reforça que arte também é educação e pesquisa, e que isso precisa de incentivos para poder avançar.
“A arte é a expressão e demarcação da cultura de um povo”, explica.
Luiza, que atualmente busca consolidar sua presença artística através de seus trabalhos com gravuras, bordados e composições que utilizam diversos tipos de materiais, valorizando a singularidade da matéria como pilar na produção, enfrenta outro problema bastante comum no meio artístico: o ser mulher.
“Além das adversidades culturais, é crucial destacar o machismo enraizado nas margens da sociedade e entrelaçado no circuito artístico. Mulheres artistas enfrentam desafios adicionais para serem reconhecidas e ocuparem espaços. A arte de uma mulher precisa transcender para cativar, enquanto artistas masculinos muitas vezes não enfrentam esse mesmo padrão exigente”, alerta a artista.
Redução de incentivos culturais na Lei Djalma Maranhão
Com as mudanças na Lei Djalma Maranhão, que reduzem incentivos fiscais para financiar projetos culturais, a classe artística ouvida pela Agência Saiba Mais aguarda, em 2024, a queda em espetáculos e eventos culturais em Natal e também a redução de projetos gratuitos.
Anthony acredita que os impactos dessas mudanças serão sentidas por pequenos artistas a longo prazo e os trabalhadores, comerciantes e vendedores ambulantes serão afetados diretamente pela baixa quantidade de eventos públicos.
“É uma pena o legislativo ter ignorado a grande quantidade de propostas enviadas pela classe artística para tornar essa lei melhor e mais acessível para os pequenos agentes culturais”, pontuou.
“A longo prazo os artistas e cidadãos da cidade não vão poder nem ter o direito de assistir as poucas atrações gratuitas que acontecem na cidade. Sem falar que, com a ausência desses recursos, os grandes produtores vão procurar captar meios em outros editais destinados a classe artística com menos estrutura”, finaliza.
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Essa reportagem faz parte do projeto "Saiba Mais de perto", idealizado pela Agência SAIBA MAIS, e financiado com recursos do programa Acelerando Negócios Digitais, do ICFJ/Meta e apoio da Ajor.
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